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Bulimia: do diagnóstico ao tratamento

O ciclo da bulimia apresenta duas etapas: os recorrentes episódios de compulsão alimentar e as ações que tentam reverter o ganho de calorias, como o vômito e o uso de laxantes, que estão presentes em 90% dos casos. Na bulimia, o tratamento pode ser psicológico e medicamentoso, mesmo não havendo comorbidades no quadro do paciente 
 

Caracterizada por ser um dos transtornos alimentares mais conhecidos no mundo, a bulimia, diferente da anorexia, envolve compulsões alimentares. De acordo com a psiquiatra Roberta Catanzaro Perosa, para que um distúrbio alimentar, possa ser diagnosticado como bulimia, é necessário que o paciente tenha episódios de compulsão alimentar durante 3 meses, mesmo que isso aconteça apenas uma vez por semana. “O episódio de compulsão alimentar a gente define como sendo a ingesta de uma grande quantidade de comida em um curto período de tempo, com sensação de perda de controle, seguido de culpa e da utilização de comportamentos compensatórios para evitar o ganho ou promover a perda de peso.”  

 

Os métodos compensatórios mais comuns entre as pessoas com bulimia são de caráter purgativo, sendo que “90% das vezes os pacientes se utilizam de vômitos autoinduzidos, seguidos da utilização de laxantes – que está como segundo método mais utilizado”, como afirma Roberta Perosa. Mas o uso de laxantes, diuréticos e enemas (conhecidos como uma maneira de estimular o intestino para que haja a evacuação de conteúdos) também se destacam nesse cenário. A psiquiatra ainda alerta que a prática de comportamentos purgativos indica uma gravidade maior do quadro da doença.

 

Em relação aos métodos não purgativos, o excesso de atividades físicas também pode estar presente no comportamento de um paciente com transtorno alimentar. Na bulimia, a prática de exercícios visa reverter o ganho de calorias, e não a promoção da saúde.

 

Apesar do índice de mortes ser menor, em comparação com a anorexia, a bulimia também é um distúrbio psiquiátrico preocupante. Segundo dados da Associação Brasileira de Transtornos Alimentares (ASTRAL), estima-se que a taxa de mortalidade seja de 1,7 (sendo calculada por 1000 casos-ano) e que as tentativas de cometer suicídio podem estar presentes em mais de 35% dos casos.

 

Quanto ao tratamento, diferente do que acontece na anorexia, mesmo que o paciente com bulimia não tenha algum tipo de comorbidade, é possível incluir medicamentos para ajudar ao longo do processo. “Temos medicamentos que podem agir nos sintomas, no sentido de diminuir os episódios de compulsão alimentar e a frequência dos métodos purgativos ou compensatórios”, explica a psiquiatra Roberta Perosa.   

  

Também atuando no tratamento, o psicólogo tem a missão de ajudar o paciente a entender que ele está doente, reconhecer em que momento se encontra na doença e também perceber como o ciclo familiar enxerga o problema. Além disso, o profissional da saúde é essencial para que a pessoa possa criar uma visão além do próprio corpo. “A gente vai tentar estruturar para que essa questão com o corpo fique um pouco mais em segundo plano. Para que a pessoa comece a atuar em outras coisas que poderiam e deveriam estar acontecendo, dependendo da fase de vida”, afirma Claudia Regina Ribeiro.

 

Já na nutrição, o profissional se empenha para reverter a obsessão pela dieta e pela restrição alimentar – que acabam colocando o paciente em um ciclo vicioso, como explica a nutricionista Maria Cecília Proost de Souza: “Quando a gente pensa na bulimia é sempre querer voltar para a restrição, aí vai ter compulsão, vai compensar e depois vai fazer restrição de novo. Então a gente tem que ir quebrando essa mentalidade.”

 

Independente do transtorno alimentar, a empatia e o conforto do paciente não podem deixar de entrar na lista de prioridades do profissional da saúde. “Uma das principais coisas que tem que estar muito aberto é com essa parte do acolhimento”, afirma a psicóloga Claudia Regina. “O psicólogo ainda mais porque ele vai tocar em algo que perante a sociedade, como dizem: 'é só sentar e comer'. Só que as coisas são muito mais delicadas, são reais e são sofridas.”

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